quinta-feira, 29 de abril de 2010

O problema é Montes Claros...

Há três anos estive em um coffee Break promovido pelo CDL e o SEBRAE no auditório da cooperativa de produtores rurais e um dito empresário da cidade proferiu a seguinte blasfêmia em alto e bom tom "DEVERÍAMOS CONSTRUIR UM MURO QUE SEPARASSE BOCAIÚVA DE MONTES CLAROS", o mesmo falava de uma estratégia para impedir que os moradores da cidade periodicamente fizessem suas compras em Montes Claros.
O hilário de toda essa história é que essa máxima e porque não dizer pérola do conservadorismo é provavelmente desferida desde quando Bocaiúva se chamava Curato do Senhor do Bonfim e Montes Claros se chamava Formigas, nome sugestivo se levarmos em consideração que uma formiga se caracteriza por trabalhar em equipe e sempre em prol do seu formigueiro.
Como todos sabem Bocaiúva cresceu da periferia para o centro e de cima para baixo, obviamente que estou fazendo alusão aos nossos grandes e saudosos fazendeiros, também chamados na época de coronéis, que souberam como cuidar bem dos seus comandados os mantendo sempre bem cercados em seus curraizinhos, eram tão bons que até pensavam por todos os menos abastados, chamados moradores da rua de baixo, termo que catastroficamente ouvimos até hoje.
Bocaiúva sempre foi movida por vontade política e a vontade política sempre foi movida pela vontade do indivíduo que estava por cima da "carne seca", quer um bom exemplo; a estação ferroviária que hoje todos pensamos está às traças, já nasceu às traças, como todos sabemos as linhas férreas sempre levaram em seus vagões a prosperidade para as cidades por onde passaram. Em Bocaiúva foi sugerido pelos engenheiros da Central do Brasil que a estação fosse criada próximo onde hoje é a região central da cidade, contudo a recomendação que beneficiaria muitos, interessava a poucos "Coronéis" que estavam no poder e ai tiveram a brilhante ideia transgredir a recomendação e a estrada de ferro fora construída em terras improdutivas cuja à desapropriação das terras que coincidentemente os pertenciam os rendeu o que a terra não valia.
Este porto seco era nossa primeira grande vantagem competitiva sobre nossa próspera vizinha Montes Claros, já que em Bocaiúva seria o ponto final da linha férrea e toda riqueza regional aportaria aqui, mas o conservadorismo e o comodismo prevaleceram em 1926, apos dois anos de muito trabalho dos políticos e entidades de classes montes clarense eis que linha férrea chega a Montes Claros onde por anos foi ponto final, levando não só riquezas materiais, mas pessoas de todo tipo, empreendedores que construíram a história de Montes Claros.
Neste período instalaram - se na cidade os grandes atacadistas e distribuidoras da época, só para se ter uma idéia, basta lembrar-nos do empreendedor Luiz Maia que construiu com recursos próprios uma estrada que ligava as pontas dos trilhos da Central do Brasil em Montes Claros ao porto de Januária, explorando uma espécie de concessão por algum tempo, esse empreendimento interligou Sul e Sudeste com o Nordeste do Brasil e a partir de então Montes Claros se tornou entreposto do norte de minas e sudoeste baiano.
Nossa cidade por muitos anos vem vivenciando a prostração e bucolismo rural, obviamente que não tiro o mérito de ninguém e não é esse o meu objetivo, entretanto somente no final da década de 80 Bocaiúva teve seu primeiro prefeito que não era oriundo dos trabalhos agrários e por ironia do destino de onde é esse político que por três mandados mudou o perfil de Bocaiúva? Quem disse Montes Claros acertou.
Entretanto a inércia criada por mais de um século de ruralismo ainda insiste a falar que "economia bocaiuvense é agrária", porém somente 24% da população da cidade segundo dados do IBGE residem fora do perímetro urbano. 
            Sejam sinceros, quem sabia que Bocaiúva é considerada um município industrializado? Pois bem, cerca de 79% do PIB da cidade é proveniente da indústria e 15% do certo terciário, ou seja, somos uma cidade de economia basicamente urbana já que 94% de nosso PIB é do setor secundário e terciário.
            Porém tomem cuidado com os dados estatísticos, pois eles muitas vezes não revelam a realidade por traz dos números. Bocaiúva uma cidade predominantemente católica até hoje não aprendeu um ensinamento básico da igreja "que é dando que se recebe". Diferentemente de Montes Claros, que não dependeu totalmente da vontade política, teve entidades de classe desde seus primórdios, como a Associação dos Moradores de Montes Claros, que sempre buscaram criar uma cultura de capitação de empreendedores e desenvolvimento dos que ali já estavam instalados, haja vista que, no primeiro dia de aula na pós graduação que faço em gestão empresarial eis que recebo da diretora da ACI uma cartilha com as potencialidades de Montes Claros, iniciativa da Prefeitura apoiada pelas entidades de classe e instituições educacionais. Essa cartilha visa divulgar todos os benefícios fiscais e estruturais oferecidas pela prefeitura, a infra-estrutura comercial e de prestação de serviços instaladas na cidade e o celeiro de mão-de-obra capacitada ofertado pelas 21 instituições de ensino superior locadas na cidade, a fim de atrair novos empreendimentos, belo trabalho das formigas, diga-se de passagem. Se algum político se interessar posso emprestar PARA TIRAR XEROX, quem sabe copiamos o bom exemplo e não me refiro a cartilha e sim aos incentivos.
            Nossa cidade ainda possui empresários que não contratam e/ou evitam a contratação de funcionários que estudam, essa dói, já que hoje o material humano e a gestão do conhecimento constituem a principal vantagem competitiva de uma empresa. Provavelmente os mesmo empresários que pensam assim não sabem nem o porque do nascimento de uma empresa ser firmado através de um Contrato SOCIAL. Será quanto são os investimentos dessas empresas em treinamentos por colaborador ao ano? E se existe esse treinamento não restam dúvidas que devem ser ministrado por alguém de Montes Claros. Ou seja, faça o que eu falo e não o que faço.
            Perguntei a alguns alunos na instituição de ensino onde leciono a disciplina de empreendedorismo o que pretendem fazer após a conclusão do curso e exatamente 91% dos que foram questionados me responderam que iriam embora da cidade a procura de um bom emprego, somente 9% disseram que iriam se colocar a disposição do mercado de trabalho local ou abrir o próprio negócio. Dado triste, mas real, a tendência é que continuaremos exportando talentos para outras cidades e principalmente para Montes Claros já que não existe uma politica que incentive o desenvolvimento de nos empreendimentos na cidade.
            Apesar de estar classificada como uma cidade industrializada não contamos até hoje com um posto de atendimento do SEBRAE, cidades como Jequitaí cerca de cinco vezes menor que Bocaiúva desfrutam do benefício. 
            Não temos incubadoras de empresas, que apóiem o pequeno empreendedor e que o auxiliam na criação e gerenciamento do seu próprio negócio, já que segundo dados do SEBRAE 48% das empresas no Brasil fecham antes de completar dois anos de vida, justamente por falta de gestão.
            O termo rua de baixo hoje pode ser expandido, e agora a exemplo dos que os montes clarenses falam somos um bairro de nosso centro regional, então agora vamos usar o termo cidade de baixo em que todos que não acreditam em Bocaiúva estão incluídos os que moram no centro da cidade, no Pernambuco, no Bonfim etc, todos que acham que o que vem de fora é melhor, que acredita que não somos capazes de produzir conhecimento, produtos e serviços que promovam o crescimento econômico, vamos reconhecer que os serviços prestados por nossa vizinha são melhores, já que os produtos e preços são os mesmo, desenvolver nossa mão-de-obra, profissionalizar as nossas empresas a fim de criar diferenciais que mantenha nosso consumidor aqui, vamos deixar os slogans vázios de lado e criar ações consistentes que gerem resultados. Não conheço nenhum país, estado ou cidade desenvolvida que progrediu somente com programas assistenciais, dando somente o peixe e não ensinando a pescar.
            Precisamos reverter esse quadro e agora crescer de dentro pra fora e de baixo para cima, criar empresas que levem o nome de Bocaiúva para todo mundo.
            Está mais que na hora da vontade empreendedora suplantar a política e que o sonho de dias melhores se torne dias melhores e Bocaiúva usufrua das bênçãos dadas à cidade demoninada do Senhor do Bonfim.
            Sendo assim, eu Carlos Eduardo Drumond, bisneto do então Coronel nas décadas de 20 e 30 ex. presidente da câmara municipal de vereadores Washington Drumond, sugiro neste momento uno da economia brasileira, a luz do conhecimento e do talento que foi dado a todos dessa terra que DESTRUA OS MUROS E SOLTE DOS ARREIOS que a muito nos prende e que nos separam do desenvolvimento, todos juntos população, empresários, políticos, acadêmicos, valorizem o que é de Bocaiúva, usem os que nos foi dado para o progresso da cidade e que os interesses coletivos possa suplantar os interesses pessoais, só assim poderemos deixar de racionalizar "nosso fracasso como comunidade" culpando nossos.
            Espero que o texto não seja ofensivo a ninguém e desde já afirmo que essas palavras são apenas reflexões minhas do que não somos em buscar de resposta do que devemos fazer para sermos. E na tentativa de provocar essa reflexão em mais pessoas é que resolvi postar esse artigo no meu blog.

Um grande abraço a todos, Adm. Carlos Eduardo Drumond

terça-feira, 6 de abril de 2010

A ERA DO ADMINISTRADOR

       Por que os Estados Unidos são o país mais bem-sucedido do mundo? Porque é um país que resolveu o problema da miséria e da estagnação econômica, ao contrário do Brasil?
                O segredo americano e que você jamais encontrará em nenhum livro de economia, é que os Estados Unidos são um país bem administrado, um país administrado por profissionais.
                Dezenove por cento dos graduados de universidades americanas são formados em administração. Administração é a profissão mais freqüente e portanto a que dá o tom ao resto da nação.
                Infelizmente, o Brasil nunca foi bem administrado. Sempre fomos administrados por profissionais de outras áreas, desde nossas empresas até o governo. Até recentemente, tínhamos somente quatro cursos de pós-graduação em administração, um absurdo!
                De 1832 a 1964 a profissão mais freqüente no Brasil era a de advogado e foi essa a profissão que exerceu a maior influência no país, tanto que nos deu a maioria de nossos presidentes até 1964. A revolução de 1964 acabou com a era do advogado e a legalidade, e tivemos a era do economista, que perdura até hoje.
                Nos próximos dez anos isso lentamente mudará. O Brasil já tem 2.300 cursos de administração, contra 350 em 1994. Estamos logo depois dos Estados Unidos e da Índia.
Administração já é hoje a profissão mais freqüente deste país, com 18% dos formandos. Antes, nossos gênios escolhiam medicina, direito e engenharia. Agora escolhem medicina, administração e direito, nessa ordem.
                Há dez anos tínhamos apenas 200.000 administradores, e só 5% das empresas contavam com um profissional para tocá-las. O resto era dirigido por "empresários" que aprendiam administração no tapa. Por isso, até hoje 50% das empresas brasileiras quebram nos dois primeiros anos e metade de nosso capital inicial vira pó.
                O que o aumento da participação dos administradores na gestão das empresas significará para o Brasil? Uma nova era muito promissora. Finalmente seremos administrados por profissionais e não por amadores. Daqui para a frente, 75% das empresas não quebrarão nos primeiros quatro anos de vida, e nossos investimentos gerarão empregos, e não falências.
                Em 2010, teremos 2 milhões de administradores formados, e se cada um empregar vinte pessoas haverá 40 milhões de empregos novos. Será o fim da exclusão social.
Administradores nunca foram ouvidos por políticos e deputados nem concorriam a cargos públicos. Em 2010, é muito provável que teremos nosso primeiro presidente da República formado em administração. Por incrível que pareça, nunca tivemos um executivo no Executivo.
                Muitos de nossos ministros e governantes aprendiam administração no próprio cargo, errando a um custo social imenso para a nação. Foi-se o tempo em que o mundo era simples e não havia necessidade de ter um curso de administração para ser um bom administrador.
                Em 2006, o candidato da oposição que demonstrar boa capacidade gerencial será um forte candidato à sucessão de Lula. João Paulo Cunha, do PT, já o alertou de que, "se houver um bom administrador, ele conquistará o eleitorado da periferia".
                Não quero exagerar a importância dos administradores, mas somente lembrar que eles são o elo que faltava. Ordem não gera progresso, estabilidade econômica não gera crescimento de forma espontânea, sempre há a necessidade de um catalisador.
                Não será uma transição fácil, pois as classes dominantes não aceitam dividir o poder que têm. Há muita gente interessada em manter essa bagunça e desorganização, como vivem denunciando Luiz Nassif, Arnaldo Jabor e José Simão. Gente que é contra supervisão, eficiência e organização.
                Administradores têm pouco espaço na imprensa para defender suas idéias e soluções. Em pleno século XXI, sou um dos raros administradores com uma coluna na grande imprensa brasileira, e mesmo assim mensal. Peter Drucker há quarenta anos tem uma coluna semanal em dezenas de jornais americanos, ele e mais trinta gurus da administração.
                Administradores têm outra forma de encarar o mundo. Eles lutam para criar a riqueza que ainda não temos. Economistas e intelectuais lutam para distribuir a pouca riqueza que conseguimos criar, o que só tem gerado mais impostos e mais pobreza.
         Se esses 2 milhões de jovens administradores que vêm por aí ocuparem o espaço político que merecem, seremos finalmente um país bem administrado, com 500 anos de atraso. Desejo a todos coragem e boa sorte.

Stephen Kanitz é administrador por Harvard (www.kanitz.com.br)
Editora Abril, Revista Veja, edição 1886, ano 38, nº 1, 5 de janeiro de 2005, página 21